EXE Entrevista - Jayme Nicolato Corrêa, CEO da Mineração Morro do Ipê

EXE Entrevista - Jayme Nicolato Corrêa, CEO da Mineração Morro do Ipê

Entrevista ao Sr. Jayme Nicolato Correa, CEO da Mineração Morro do Ipê e Porto Sudeste. Os nossos setores de RH e SGI visitaram a sede destas empresas recentemente com o objetivo de fazer um benchmarking, tendo em vista serem grandes referências em inovação. 

1 – Conte-nos qual a sua visão sobre a contribuição do setor mineral para a economia do nosso estado de forma geral.

Resposta: Essa é uma grande pergunta, porque na visita vocês devem ter observado um dizer escrito nas paredes, para que as pessoas possam se conectar com o propósito da mineração: “tudo que não é plantado, é minerado”. Mesmo que você olhe para alguma coisa plantada, ela depende de energia, água, fertilizantes, insumos, pesticidas, combustível, que vêm da mineração. Qualquer produto que a gente olha depende da mineração e cada mineral possui uma cadeia própria. Tudo o que vivemos hoje é baseado nos benefícios da mineração e o nosso desafio como empreendedores e mineradores é fazer uma mineração sustentável, mostrando para a sociedade a importância do negócio. Se olharmos para a economia como um todo, eu diria que estamos em toda a cadeia – na indústria do aço, em toda a área de tecnologia, estações de tratamento de água, dentre outros exemplos. Eu estava lendo outro dia sobre a maior ETA do Brasil, que fica em Baixo Guandu, no Rio de Janeiro; imaginem quantas toneladas de minerais são utilizados diariamente para devolver água tratada para quase 10 milhões de pessoas – é uma coisa absurda. Perdemos esse discurso com a sociedade e temos o dever de voltar a mostrar os benefícios. Nós, como mineradores, temos a obrigação de fazer uma mineração sustentável, e essa sustentabilidade começa por nós mesmos. Por exemplo, na Mineração Morro do Ipê e no Porto Sudeste, aderimos ao Programa Capitalismo Consciente, que visa a geração valor para todos os stakeholders. O primeiro stakeholder são os empregados, pois eles têm de acreditar no que estão fazendo e ter a consciência que a empresa deve gerar valor para a comunidade, meio ambiente, investidores, parceiros, enfim, todos que estão associados ao negócio. Se você não pensa assim, você acaba sofrendo os impactos de viver em um mundo isolado. Eu digo que, nas nossas empresas, o desafio é “abrir as portas do nosso condomínio”; temos tanta coisa boa para mostrar e normalmente nos fechamos por medo dos ataques; acredito que temos que acabar com essa cultura de preconceito com o setor. Como exemplo, na MMI temos um impacto direto em 300ha, enquanto preservamos 2100ha – precisamos encontrar meios de fazer a sociedade entender isso.

 

2 – A tecnologia vem tomando espaço a cada dia no nosso cotidiano e nas instituições. Como vocês estimulam a inovação em sua empresa?

Resposta: A gente acredita que a transformação da nossa empresa depende da nossa gestão, então não vai ser alguém de fora que nos dirá onde melhorar. Não quero soar arrogante, mas os nossos processos são variados e temos que entender os nossos processos para buscar soluções e melhorias. A nossa gestão abrange melhoria contínua, inovação e a gestão em si, com a nossa mandala de gestão, que passa pelo PN10 (Profissional Nota 10). Um operador de equipamentos, por exemplo, deve ser considerado um gestor do equipamento – se ele acreditar nisso e for avaliado dessa forma, ele não está lá apenas para passar 1ª e 2ª e manobrar, mas para entender sobre produtividade, consumo de combustível, corte de pneus, melhor rota, manutenção do equipamento, resultados, trabalho com segurança. Obviamente não vamos deixar de olhar os indicadores da frota e consolidá-los, mas para nós o mais importante é a pessoa que está no ponto. Todas as áreas possuem sugestões de inovação e melhoria e fazemos um acompanhamento sistemático disso. Obviamente não fazemos a melhoria no sentido de esperar um mundo ideal; acredito muito no conceito “agile” – se tem uma melhoria ou um “gap”, vamos fechar e pôr para frente, vamos pensar no próximo. Se esperarmos chegar no mundo ideal, ele fica muito distante. A inovação não pode ser entendida como uma transformação somente pela tecnologia, mas sim como uma transformação cultural, sendo a tecnologia apenas um dos aspectos. Muitas vezes a tecnologia vem para apoiar a transformação cultural que já está implantada. Por exemplo, os nossos programas e a nossa transformação começaram no Excel; depois que estava todo mundo treinado, passamos o PN10, RDQAs e os outros programas para ferramentas da própria Microsoft, como o Sharepoint. Então, vamos implementando e fechando os “gaps” de acordo com a nossa realidade e a com nossa mudança cultural. Não adianta nada implantar uma ferramenta/tecnologia em uma cultura que não está preparada para isso, pois não vamos conseguir tirar os resultados. Então a inovação para a gente parte disso, da mudança cultural, da geração de valor para todos os stakeholders, das pessoas estarem participando dos resultados, não desperdiçar nenhuma mente. Eu não posso aceitar na minha empresa pessoas desperdiçadas, como o exemplo do operador que só passa 1ª e 2ª. Queremos que ela seja empoderada, que cresça até profissionalmente, na gestão, olhando os aspectos de segurança, de meio ambiente, da própria carreira – damos transparência total às informações para a pessoa acreditar. A inovação é parte importante depois que conseguimos fazer a mudança cultural.

 

3 – Em sua opinião, quais os ganhos de uma organização que investe em um SGI e uma Gestão de Pessoas eficientes e humanos?

Resposta: A transformação só vem através das pessoas. A nossa gestão também possui valores resumidos na mandala dos 5Hs (Harmonia, Humanidade, Honestidade, Humildade, Humor, Saúde Física e Mental), pois nos conectamos com as pessoas através dos valores. Somente conseguimos transformar quando as pessoas sentem que aquilo é realmente real e se conectam com o propósito da empresa. Não adianta falar “se não for seguro não faça e não deixe que o outro faça” (que é o lema do nosso Programa Acidente Zero), se não colocarmos em ação e eu não for o 1º a dar exemplo em todas as atividades. Não adianta eu dizer que “a saúde da empresa depende da saúde da nossa comunidade” se faço ou eu mando fazer algo que desrespeite o relacionamento com a comunidade, meio ambiente ou com as pessoas do time. Em relação à transformação da nossa empresa através da gestão de todos, essa transformação deve ser ouvida e incentivada, pois tudo isso está conectado com os nossos valores. Como exemplo, se você acredita nos nossos valores e propósitos, e um dos nossos propósitos é o Humor, as pessoas não têm medo de trazer sugestões de melhoria ou expressar a sua opinião. Essas opiniões são muito bem-vindas e serão ouvidas, analisadas e trabalhadas em conjunto. Se há essa crença, as coisas vão sendo transformadas positivamente. Nas inspeções de segurança, por exemplo, tivemos 6000 RDQAs no Porto no ano passado e, esse ano, até agora, já tivemos 4000. Podemos pensar como é possível termos eliminado 6000 problemas no ano passado e agora estarmos em ritmo de eliminas 8000. A lei da entropia é assim, sempre estamos desorganizando os espinhos – se não colocarmos energia para organizar os espinhos, sempre vai ficar tudo bagunçado. O tempo todo estamos melhorando e, quando melhoramos uma coisa, percebemos outra coisa que poderia melhorar. A melhoria deve ser contínua e essas atitudes dependem muito de cultura, valores, das pessoas acreditarem que elas podem mudar; a transformação da empresa depende da gestão de cada um.

 

4 – Qual você acredita ser o maior diferencial da empresa em que você atua?

Resposta: Eu acho que o maior diferencial da nossa empresa é a nossa cultura – colocar o foco nas pessoas e acreditar que a rotina faz parte do nosso dia a dia, que a nossa felicidade está na rotina, e não o contrário. Se não criarmos uma rotina bem estabelecida, acabamos deixando um “backlog” que depois vira uma “gincana”, pois ficamos sempre correndo atrás, e isso traz sofrimento. Por exemplo, se eu não cuido da minha saúde ou se deixo para cuidar só no último dia do mês, quando buscar os meus resultados vou ficar frustrado, desesperado, querendo fazer tudo de novo; eu nunca vou estar em paz e preparado para novas etapas e novos crescimentos, pois estarei sempre deixando algo para trás. Então eu acho que fazer as coisas com processo, com rotina e baseado em valores da cultura é fundamental.

 

5 – Quais os principais desafios enfrentados em sua gestão na Mineração Morro do Ipê e no Porto Sudeste?

Resposta: Os desafios são inúmeros; para começar, cito os desafios de desenvolvimento de projetos, pois passamos por um processo de crescimento e isso depende de uma interação muito grande com governos e com órgãos em todos os níveis (municipal, estadual e federal). Mostrar o valor do nosso negócio é um desafio constante para nós, pois muitas vezes somos mal-entendidos. Hoje, a nossa cultura no Brasil é muito superficial – as pessoas pegam as informações pela metade e não conseguem entender a finalidade de tudo que está sendo desenvolvido, quais são os verdadeiros impactos e benefícios, quais são as compensações, etc. Faz parte do nosso trabalho mostrar tudo isso tecnicamente, criando uma relação de confiança, para que as pessoas acreditem no que estamos falando. Esse é o nosso grande desafio, que se tornou muito maior devido aos recentes desastres ambientais ocorridos com o rompimento das barragens. Isso criou uma desconfiança muito grande na sociedade, e reverter essa relação de confiança é o maior desafio do setor mineral em todos os produtos minerais produzidos no Brasil – ouro, minério de ferro, potássio, lítio, vanádio, etc. Pergunta-se como você trata os subprodutos, como você fere o meio ambiente, como você faz isso de uma forma sustentável. Está claro para mim que os municípios com melhores IDHs do Brasil são aqueles onde há uma mineração associada, pois há geração de emprego, renda, conhecimento. Entretanto, é muito difícil mostrarmos isso na prática. Devido a esses acidentes, o preconceito aumentou muito, então temos de trabalhar esses aspectos. Um grande exemplo para nós é o agronegócio – um setor que também sofre muito, mas criou toda uma estratégia unificada para mostrar o valor do agro, que gera impactos muito positivos à sociedade. Do nosso lado, ainda estamos perdendo nessa cultura e nessa demonstração à sociedade da importância da mineração, pois tudo que não é plantado é minerado, e o que é plantado também depende da mineração. Se não conseguimos demonstrar isso, atrasamos os nossos licenciamentos, atrasamos os nossos projetos, cronogramas, prejudicando a geração de emprego, renda. Além disso, o desafio técnico é enorme, pois a mineração hoje é muito tecnológica. Se você quer realmente melhorar os resultados da sua empresa, você depende de um conhecimento profundo em todas as áreas de mineração, logística, etc. Esse conhecimento e essa tecnologia dependem disso, mas isso é uma jornada, nada é do dia para a noite, tudo deve ser conquistado e temos que aprender a curtir a jornada.

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